Uma pedra lançada a um charco suscita ondas concêntricas que se expandem pela sua superfície, envolvendo, no seu movimento, a distâncias diferentes e com diferentes efeitos, o nenúfar e a cana, o barquinho de papel e a bóia do pescador. Objetos que estavam muito bem onde estavam, na sua paz ou no seu sono, são como que chamados à vida, obrigados a reagir e a entrarem em relações entre si. Outros movimentos invisíveis propagam-se em profundidade, em todas as direções, enquanto a pedra se precipita, deslocando as algas, assustando os peixes, causando sempre novas agitações moleculares (…) por fim toca o fundo, remexe o lodo, bate nos objetos que jaziam aí esquecidos, alguns dos quais são assim desenterrados, enquanto outros ficam cobertos de areia. (…) Igualmente uma palavra, lançada na mente por acaso, produz ondas de superfície e de profundidade, provoca uma série infinita de reações em cadeia, envolvendo na sua queda sons e imagens, analogias e recordações, significados e sonhos.”